Uma missão de direitos humanos formada por representantes de entidades indigenistas, movimentos sociais e autoridades públicas visitou, nesta quinta-feira (12), as terras indígenas Avá-Guarani, localizadas na região oeste do Paraná. Os povos originários enfrentam ameaças contínuas de fazendeiros e jagunços. A delegação, composta por membros da Comissão Arns, Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Movimento dos Trabalhadores da Sem Terra (MST), entre outros, busca demonstrar solidariedade às comunidades indígenas e articular apoio frente à escalada de violência que esses grupos têm sofrido nos últimos meses.

 

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A missão visitou as retomadas indígenas Arakoe, Araguaju e Yhovy, situadas nos municípios de Guaíra e Terra Roxa. Durante o encontro, a cacica Paulina Avá-Guarani, da tekoha Yhovy, relatou à delegação diversos episódios de violência, incluindo uma emboscada em janeiro que resultou em quatro feridos, entre eles o líder espiritual da comunidade. "Estamos usando nossos corpos como escudo para defender nosso território ancestral", afirmou Paulina, enfatizando a persistente luta pela demarcação das terras indígenas, apesar dos inúmeros desafios.

 

A Terra Indígena Guasu Guavirá, que abriga aproximadamente 5 mil Avá-Guarani, está em processo de demarcação. No entanto, nos últimos dois meses, os atos de violência e invasões de terras por fazendeiros têm se intensificado, à medida que as comunidades indígenas resistem nas áreas retomadas, enfrentando o confinamento em pequenos territórios.

 

ATAQUE EM MATO GROSSO DO SUL AGRAVA A CRISE

 

Paralelamente, na tarde da última quinta-feira (12), um incidente grave ocorreu na Terra Indígena Nhanderu Marangatu, localizada em Antônio João (MS). Indígenas Guarani e Kaiowá que haviam retornado à Fazenda Barra, sobreposta ao território tradicional, foram atacados pela Polícia Militar. Três mulheres ficaram feridas, sendo que uma delas está hospitalizada em estado grave. A Força Nacional foi acionada hoje (13) para intervir na região, enquanto os indígenas permanecem cercados na fazenda.

 

A situação no Mato Grosso do Sul é especialmente delicada, pois há um forte conflito de interesses envolvendo a advogada ruralista Luana Ruiz, assessora especial da Casa Civil do Governo Estadual. Além de seu cargo público, Luana é advogada da ação deferida pela Justiça Federal de Ponta Porã que determina a proteção ostensiva da Fazenda Barra, área sobreposta à Terra Indígena Nhanderu Marangatu. Essa ação, que autoriza a Polícia Militar a realizar rondas 24 horas por dia, é alvo de duras críticas, já que a advogada é filha dos proprietários da fazenda, Roseli Ruiz e Pio Queiroz Silva, criando uma situação de conflito de interesses.

 

Desde janeiro de 2023, Luana ocupa cargos no governo estadual, primeiro como chefe de gabinete na Secretaria de Infraestrutura e Logística e, recentemente, como assessora especial na Casa Civil. Sua trajetória política está intimamente ligada ao Partido Liberal (PL), pelo qual concorreu nas eleições de 2022, e à ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina, que também esteve envolvida em conflitos agrários na região. Em 2015, Tereza Cristina participou de uma investida liderada por Roseli Ruiz para expulsar os indígenas Guarani e Kaiowá da área, o que resultou na morte do líder indígena Simião Vilhalva.

 

A AÇÃO DA POLÍCIA MILITAR EM NHANDERU MARANGATU

 

 

Decisões da Justiça Federal de Ponta Porã, incluindo a mais recente desta quinta-feira (12), autorizam a Polícia Militar do Mato Grosso do Sul a proteger a propriedade da família de Luana Ruiz. A polícia tem mantido um pelotão na fazenda e realiza rondas ostensivas, uma situação que levanta questionamentos sobre o uso da força policial como segurança privada para interesses particulares.

 

No último incidente, os Guarani e Kaiowá, numa tentativa de chamar a atenção do Supremo Tribunal Federal (STF) para o julgamento que anulou o decreto de homologação da Terra Indígena em 2005, realizaram uma retomada de parte da Fazenda Barra. No entanto, ao se aproximarem da sede da fazenda, foram recebidos com tiros e bombas, segundo relatos da indígena Marli Gomes Guarani e Kaiowá. Sua irmã, Juliana Gomes Guarani e Kaiowá, foi atingida por um tiro no joelho e corre o risco de amputação após a cirurgia marcada para a próxima semana.

 

PRESENÇA DO CARDEAL LEONARDO ULRIH STEINER

 

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O cardeal Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), esteve presente na missão de direitos humanos em apoio às comunidades Avá-Guarani. Sua participação reforça o comprometimento da Igreja Católica, por meio do CIMI, com a defesa dos direitos dos povos indígenas e a luta contra a violência e invasões de terras que essas comunidades enfrentam. A liderança de Steiner no CIMI fortalece o engajamento da Igreja nas causas sociais e ambientais, especialmente em relação às populações indígenas.

 

A tensão na região continua a aumentar, e as entidades de direitos humanos temem uma nova onda de violência. A missão de direitos humanos pretende continuar suas investigações no Mato Grosso do Sul nos próximos dias, enquanto pressiona por uma solução pacífica e justa para os conflitos agrários que assolam as comunidades indígenas.

 

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A situação exige ação urgente por parte das autoridades para evitar novos episódios de violência e garantir a proteção dos direitos dos povos indígenas.

 

 

 

 

Fonte Renan Dantas Diocese de Juína / Informações CIMI
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