Em maio e junho deste ano, as imagens mais marcantes das enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul eram da mesma região: os vales do Rio Pardo e do Rio Taquari. Nos 40 municípios da Diocese de Santa Cruz do Sul, a população viu a força das águas devastar cidades e campos, levando consigo estradas, casas, pontes e muitas vidas.
Quando a comunidade local começava a reunir forças para seguir em frente na reconstrução e superação da tragédia, recebeu um presente especial: em 21 de junho, pe. Itacir Brassiani foi nomeado pelo Papa Francisco como bispo diocesano de Santa Cruz do Sul.
Desde que eu confirmei a minha resposta e começaram as enchentes, eu comecei a me perguntar ‘meu Deus, o que isto significa para mim e o que essa diocese necessita de mim, com tanta dor e com tanto sofrimento’, lembra ele.
Dom Itacir foi ordenado e tomou posse no último domingo, 29, na Catedral São João Batista e é o quinto bispo diocesano de Santa Cruz do Sul. Ele conta que, desde que soube da missão que lhe esperava, buscou dar um sentido ainda maior aos símbolos que representariam o seu ministério episcopal:
Pouco a pouco, eu que não sou muito afeito a essas insígnias externas de poder, comecei a pensar: ‘Se precisa ter báculo, então eu preciso procurar algo que seja significativo para mim, que não seja apenas uma peça decorativa ou uma joia’.
Então me veio a ideia de recolher algo que sobrou da destruição que esta crise climática vem provocando no nosso Rio Grande do Sul e fiquei procurando uma madeira que fosse representativa disso. Encontrei em Arroio do Meio, que é uma das áreas mais devastadas, numa comunidade urbana da Capela de Tiradentes, que foi totalmente destruída pela enchente junto como tantas outras residências. Então, com a ajuda dos padres de lá, recolhemos uma travessa que sustentava esse centro comunitário.
Dom Itacir conta que o báculo, feito a partir desta madeira de marmeleiro, foi confeccionado por um casal amigo de Pinhalzinho (SC), Vilson e Mirtes Maté. Na parte de cima, que precisou ser confeccionada com outra madeira já a original não permitia curvas, está a logo da Congregação dos Missionários da Sagrada Família.
O anel episcopal, feito a partir da semente do tucum (uma palmeira nativa da Amazônia), também tem um sentido especial a dom Itacir, que ganhou o presente de dois amigos artesões: Antonio Francisco da Silva e André Freitas da Silva.
Celebração de Ordenação e Posse
A celebração, com os ritos de Ordenação e Posse, foi presidida pelo Arcebispo de Santa Maria e Presidente do Regional Sul 3, dom Leomar Brustolin. Os co-ordenantes foram dom Aloísio Alberto Dilli, bispo emérito de Santa Cruz do Sul e dom Guilherme Antônio Werlang, bispo diocesano de Lages (SC).
Familiares, amigos, padres, diáconos, seminaristas, religiosos(as) e leigos(as) de toda a diocese e de outras Igrejas Particulares, além de autoridades locais e bispos de todo o Regional, participaram da cerimônia. A presença marcante foi das caravanas das paróquias de Santo Ângelo, Passo Fundo, São José do Herval, Anchieta e Chapecó, pelas quais monsenhor Itacir passou durante seu ministério sacerdotal.
Após a proclamação do Evangelho, iniciou-se o rito de ordenação. Durante a homilia, dom Leomar Brustolin lembrou dom Paulo Moretto: “Ele olhou para mim e disse: Tu não tens todas as graças, mas receberá cada uma na hora necessária, quando for preciso para governar. Por isso, se tem uma palavra que gostaria de lembrar para você é não tenhas medo! Não é obra nossa, você só vai receber, é graça, é absolutamente graça. Apenas o seu Sim, é uma graça”, afirmou o presidente do Regional Sul 3.
Em seguida, deu-se continuidade ao rito com a ladainha dos Santos, a imposição das mãos pelos bispos presentes e a oração de ordenação, conferindo ao monsenhor Itacir o dom do Espírito Santo para sua missão como bispo. Durante essa oração, o livro dos evangelhos foi colocado sobre sua cabeça, simbolizando a centralidade da pregação da Palavra de Deus em seu ministério. Depois, o ordenado foi ungido com o óleo do crisma, simbolizando a especial participação no sacerdócio de Cristo. O anel foi colocado em seu dedo como sinal de sua fidelidade à Igreja, enquanto a mitra representa a busca pela santidade.
A cerimônia prosseguiu com o rito de posse, quando dom Leomar conduziu dom Itacir à cátedra, onde foi acolhido pelos bispos presentes e assumiu a presidência da celebração.
Dom Itacir escolheu como lema episcopal o ensinamento contido na passagem de 1º Coríntios, nos versículos 17 a 25: “Guiados pelo Evangelho da Cruz”.
Somos pastores e ovelhas
Durante sua fala à comunidade, o novo bispo agradeceu a presença de todos, saudou toda a comunidade, familiares e amigos de caminhada. Para começar, citou os ensinamentos de Santo Agostinho: “Há duas coisas a considerar em nós: uma, que somos cristãos; outra, que somos bispos. Por sermos bispos, somos contados entre os pastores, se formos bons. Por sermos cristãos, também somos ovelhas, e é uma grande felicidade ser parte do rebanho de Deus”, afirmou.
Para concluir, à comunidade diocesana fez um pedido. “Permitam-me que eu participe da vida de vocês, da vida pastoral da diocese. Possivelmente ninguém de vocês tenha me escolhido bispo dessa diocese, eu também não escolhi ser bispo. Mas, na caminhada de fé, significa caminhar juntos como irmãos e irmãs. E como dizia Francisco, pobrezinho de Assis, irmãos e irmãs, a gente não escolhe. Deus nos dá de presente, e a gente não recusa, sempre agradece. Por isso, eu acolho vocês como meus irmãos e irmãs, como meu Povo. Peço que vocês me acolham como um irmão que vem de fora e que quer se tornar gente de casa”, solicitou.
Victória Holzbach | CNBB Sul 3/Divulgação
Fotos: Pascom da Diocese de Santa Cruz do Sul/Divulgação
Foto de capa: Rafaelly Machado | Gazeta do Sul/Divulgação