Os ciclos das festas juninas têm
um ponto alto na Solenidade da Natividade de São João Batista, o maior dos
profetas, porque apresentou o Cordeiro de Deus Salvador Com ele temos a memória
viva da vocação e missão dos profetas e profetizas no Povo de Deus, guardar a
fidelidade à aliança e preparar os caminhos do Salvador esperado pelos povos e
nações.
No tempo de Elias quando ele
estava sendo perseguido pela rainha Jesabel que queria matá-lo, ele também se
queixou: “Mataram todos os profetas”. E Deus respondeu: “Não, ainda sobram
muitos profetas que eu reservei…” (1 Reis 19). Às vezes temos a tentação de
pensar, que não há mais profetas na Igreja e no mundo, esquecendo a própria
profecia de Joel que chegará o dia em que todo o povo se tornará profeta.
Notamos com certa preocupação que
alguns setores da Igreja pensam que a evangelização não precisa mais de
profetas, que o anúncio deve limitar-se à proclamação estrita da Palavra, e que
os assuntos sociais e ambientais não integram ou fazem parte da missão de
evangelizar.
Há um esquecimento dos documentos
da CNBB que como o n*80 desenvolve o tema da Evangelização e missão profética
da Igreja integrando os novos desafios da nossa cultura, o Sínodo sobre Igreja
e Justiça de 1971, onde se afirma de forma clara que a justiça pertence ao
anúncio do Evangelho, ou as Conferências de Medellín, Puebla, Santo Domingo e
Aparecida que ensinam que entre a Evangelização a justiça e a promoção humana
integral existem vínculos intrínsecos inseparáveis, pois a opção pelos pobres
faz parte fundamental do Evangelho.
No dia 07 de agosto de 1999, o
monge conhecido pela sua atuação entre os pobres, recebeu a última palavra que
ele escutou de Dom Helder Câmara. Ele tinha pedido uma palavra de vida e a
benção a Dom Helder, com os olhos fechados e com muita dificuldade ele
sussurrou a Marcelo Barros. “Não deixe cair à profecia”. Esse legado profético
é divino, pois sempre será Deus que inspira e chama a esta vocação que
organiza, mobiliza e faz evangelizar, deixando de lado as estratégias de
marketing e os apelos à teologia de uma prosperidade meramente material ou do
mundanismo espiritual individualista para “vencedores”.
Celebrar autenticamente São João
Batista como diz o Senhor Jesus é não tornar-se jamais um caniço que se dobra
servilmente aos ventos e interesses, mas sonhar e lutar pelo Reino da vida para
todos, anunciando a profecia do Espírito de Pentecostes, da fraternidade, da
justiça e sustentabilidade para toda a Terra, todas as pessoas e seres vivos.
Deus seja louvado!
Dom Roberto Francisco Ferrería Paz
Bispo de Campos (RJ)